sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Visão

Não era dos melhores dias para sair, mas Alice insistiu e usou todos os truques que tinha ao seu alcance, incluindo o sorriso de menina “eu porto-me sempre bem”. O tempo estava de cara virada e até bastante fresco. Roupa quente envergada, espírito em alta e semblante vibrante, Alice deu a mão ao pai e lá foram os dois. Não tardou a pergunta: “Onde vamos?”. Não houve resposta, porque o pai decidiu transformar aquela “saída forçada” numa enorme surpresa. Caminhando, seguiram. Sempre a subir. E subiam cada vez mais. Alice já começava a ficar cansada. Eis que chegam a um miradouro. Alice ficou maravilhada com o recorte da cidade, os prédios que pareciam miniaturas, o barulho dos carros e até pedaços de conversa que se ouviam aqui e ali. O pai, orgulhoso, olhava para o sorriso da filha perante tal visão panorâmica. “Agora vamos fazer um jogo”, disse o pai. “Boa, boa, boa”, vibrava Alice. Foi então que o pai pediu-lhe que tirasse os óculos e olhasse de novo para a cidade. “Assim vejo tudo embaciado”, respondeu. E foi então que o pai lhe disse: “Embaciado ou não, nunca percas a tua visão do Mundo”. 

 
Embaciado

(Text & Photo - Luís Pinto Carvalho - All Rights Reserved)

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